Atos dos Apóstolos
Introdução
Enquanto livros anteriores (MT, MC, LC E JO) falam de conquista da terra prometida, profetas profetizam o juízo e esperança sobre Israel e o mundo. Bem como os evangelhos se ocupam em falar de Cristo, agora no Livro de Atos o autor se ocupa em falar da igreja e de seus apóstolos sob a efusão do Espírito Santo.
O livro de Atos é categorizado como um livro Histórico no Novo Testamento, pois se ocupa em registrar a história de uma igreja que começou em Jerusalém, Judéia, Samaria, até todo o território romano, ou seja, até os confins da terra naquele tempo.
Diferente dos evangelhos, Atos não traz uma história de Cristo, mas da igreja pregando a mensagem do Cristo de forma direta e indireta. Nesse importante livro temos a mensagem apostólica e das doutrinas essenciais da fé sendo elas:
a) Doutrina da Ressurreição de Cristo (At 1.3; 2.31-33; 4.10);
b) da Salvação da alma (At 4.12; 5.31);
c) do Arrependimento (At 2.38; 3.19; 5.31; 11.18; 17.30; 26.20);
d) do Batismo nas águas (At 2.38, 41; 8.12, 38; 9.18; 16.15; 22.16);
e) forte presença dos Dons espirituais (At 2.43; 3.6-7; 5.12, 15-16; 6.8; 8.6-8; 13.9-12; 14.8-11; 19.11-12);
f) Ressurreição dos santos (At 17.18, 32; 23.6; 24.15; 26.23).
Segundo minhas pesquisas em vastos livros, o livro de Atos com seus registros correspondem a um período de cerca 32 anos de história da igreja. Assim, percebemos que autor do Livro precisou ser um celetista nos fatos então registrados, ou seja, foi necessário o mesmo pela inspiração do Espírito Santo selecionar o que era mais viável para ser registrado.
Ao ler um livro histórico, percebemos que uma história se resume em um personagem, um lugar e um tempo. Para que possa se ter uma ideia, propositalmente os três nomes mais citados em Atos dos Apóstolos são o de Paulo (cerca de 129 vezes), do Senhor Jesus (cerca de 69 vezes) e de Pedro (cerca de 56 vezes).
Ainda sobre esse assunto, o autor escrevendo para Teófilo (At 1.1), em seu escrito citou o termo “igreja” por dezessete vezes; “discípulos” por vinte e sete vezes; “Apóstolos” por trinta vezes. O autor informa ao seu destinatário que essa igreja tinha seu fundador que era o Cristo, que a mesma tinha seus representantes que eram os apóstolos e os mesmos faziam muitos discípulos bem como parte de uma igreja.
O Contexto Histórico de Atos
Toda a narrativa de Atos desenvolve-se no Império Romano. Esse foi um império diversificado, cujas províncias e cidades eram governadas. Quando falamos províncias nos referimos a locais estratégicos como cidades administrativas para Roma. As províncias imperiais ficavam sob o governo direto do imperador, que nomeava um “procurador” como seu representante. Algumas cidades e seus cidadãos recebiam consideração legal especial. Assim, havia, por exemplo, “colônias”, cidades livres.
Sobre Herodes Ele tinha determinadas prerrogativas especiais, dentre tantas podia indicar o sumo sacerdote e ser o guardião do tesouro do templo. Mas sua autoridade era limitada pois os governadores da Judeia eram supervisionados pelos representantes de Roma.
Havia conflitos políticos, cuja expressão extrema levaria à perseguição, e havia conflitos de cultura e de valores. (o ritmo de vida e os valores morais causariam confrontos) Leia At 16.19-21 em que possessão magna era lucro mas para Paulo era uma prisão satânica.
O estilo de vida que os cristãos propunham e seguiam não era o da sociedade como um todo, sociedade essa que era marcada por idolatria como um fator comercial (Ato 19.23-28). Os cristãos, que iniciaram sua missão como mensageiros de uma nova era, corriam agora o risco de se sentir extremamente desencorajados por estarem em conflito com os poderes políticos locais e de Roma. Por essa razão, era quase inevitável que os cristãos logo entrassem em conflito com as autoridades porque sua pregação provocava debates e distúrbios. Isso já aparece nos conflitos com o Sinédrio nos capítulos iniciais do livro, e esses tumultos continuam a ocorrer à medida que Paulo e seus companheiros fazem seu caminho a outras partes do Império Romano.
Como podemos ver, a mensagem da igreja é bem diferente do foco do Império Romano. Pois, o imperador desejava ser venerado, ao passo que a igreja protestava contra tal atitude. Os imperadores queriam dominar o mundo, ao passo que a igreja anunciava o fim dele. Esse tipo de mensagem levava a igreja a ser vista com maus olhos perante reis e magistrados.
Importância do Livro de Atos
Como livro histórico, o autor nos apresenta uma igreja que crescia em número (At 1.15; 2.41, 47; 4.4; 5.14; 6.1, 7; 8.12); e se expandia até Jerusalém, por toda Palestina, em Antioquia, na Ásia Menor e na Galácia, até a Europa e até Roma. E o seu crescimento era marcado por uma pregação cristã, ou seja, baseada no Cristo que nasceu, morreu e ressuscitou e com uma forte presença do santo Espírito de Deus. Segundo Justo Gonzalez, o Livro de Atos como pensa muitos sobre o assunto, o livro em questão narra e apresenta uma terceira etapa de Revelação da Trindade Divina: Antigo Testamento traz a Revelação do Pai; Novo Testamento, ou seja nos quatro evangelhos traz a Revelação do Filho; Atos e Epístolas narra a igreja sobre ação do Espírito Santo.
Sobre Lucas
A percepção tradicional é que os dois livros foram escritos por “Lucas, o médico amado” que envia saudações para Colossos em uma das epístolas de Paulo (Cl 4.14) e que, depois, também aparece nas saudações de Filemom 24 e de 2 Timóteo 4.11. Essa opinião é expressa pela primeira vez no cânon Muratoriano (é uma cópia da lista mais antiga que se conhece dos livros do Novo Testamento), documento da segunda metade do século II, e em escritos contemporâneos de Ireneu, Tertuliano, Origines, Eusébio e Jerônimo seguem essa coerência.
Mais tarde, no início do século IV, alguns sugeriram que Lucas é “Lúcio de Cirene”, mencionado em Atos 13.1. Em relação à primeira questão, há consenso geral de que, na verdade, os dois livros são obra de um único autor.
Sobre o grego utilizado, Lucas utiliza uma linguagem mais elevada, em seu caráter literário, que nos faz lembrar-se de obras clássicas do grego antigo. Assim, segundo interpretes no assunto quanto ao conteúdo linguístico, Evangelho de Lucas e Atos foram escritos pela mesma pessoa, nesse caso, Lucas.
Esse mesmo Lucas conheceu tanto os apóstolos (todos?), como pessoas que viram Jesus. Não somente esses como também grandes discípulos de sua época. Lucas em sua introdução no Evangelho afirma que fez uma INVESTIGAÇÃO dos fatos Lc 1.1-3.
Teófilo
É difícil dizer com muita precisão quem era “Teófilo” ao qual os dois livros foram endereçados. O próprio nome quer dizer “amigo de Deus” e, por isso, muitos sugerem que esse nome não se refere realmente a uma pessoa específica, mas, antes, é um nome simbólico que Lucas deu para todos seus leitores. Segundo, em Lucas 1.3, Lucas chama esse Teófilo de “excelentíssimo”. Esse era um tratamento honorífico formal, normalmente reservado para os romanos da classe de cavaleiros. De qualquer maneira, o mais aceito é que o destinatário era uma pessoa real, um gentio convertido ao evangelho e pelo intuito do escritor, Teófilo desejava saber mais das coisas que lhe já tinha sido passadas. Com seu tratado, Lucas que é o escrito deseja passar todas as informações da forma mais sistematizada possível.
Lucas e Paulo de Tarso
Como já foi apresentado anteriormente, o nome de Paulo é o mais citado no livro de Atos (cerca de 129 vezes). Isso se deve ao de Lucas ter sido seu companheiro em viagens. Do capitulo um até o décimo segundo, o personagem destacado ali é Pedro e os demais apóstolos. Mas do décimo terceiro ao vigésimo oitavo, Paulo é figura predominante.
Lendo é possível perceber que há pelo menos três viagens missionárias de Paulo e a quarta ele estaria sob escolta para o seu julgamento.
Na primeira viagem missionária teremos a seguintes localidades: Seleucia (At 13:4); Salamina (At 13:5); Pafos (At 13:6); Perge (At 13:13); Antioquia da Pisídia (At 13:14); Icônio (At 14:1); Listra (At 14:6-11); Derbe (At 14:20). Assim, essa trajetória compreendeu uma rota de 1514km aproximadamente para mais.
Na segunda viagem missionária teremos: Derbe e listra (At 16:1-2); Frígia (At 16:6); Troas (At 16:11); Samatrócia (At 16:11); Napoles (At 16:11); Filipos (At 16:12); Anfílopolis (At 17:1); Apolônia (At 17:15); Corinto (At 18:1); Cesncréia (At 8:18); Eféso (At 18:19); Jerusalém (At 18:22). Nessa trajetória foram cerca de 3073km de evangelização.
Na terceira viagem: A Gálacia e Frígia (At 18:23); As regiões sueriores (At 19:1); Éfeso (At 19:1); Macedonia (At 20:1); Grécia (At 20:15); Trogílio (At 20:15); Mileto (At 20:15-17); Cós (At 21:1); Rodes (At 21:1); Pátara (At 21:1); Tiro (At 21:3); Ptolomaida (At 21:7); Cezaréia (At 21:8); Jerusalém (At 21:17). Nessa terceira viagem foram cerca de 3521km percorridos.
Em sua quarta viagem, ao verificar em mapas, é visível que as cidades que Lucas informa foram cidades portuárias: Sidom (At 27:3); Mirra (At 27:5); Bons Portos (At 27:8); Ilha de Malta (At 28:1); Siracusa (At 28:12); Régio (At 28:13); Putéoli (At 28:13); Apio (At 28:15); Três Vendas (At 28:15); Roma (At 28:16). Cerca de 2762km.
O nome de Paulo causava temores em comerciantes de idolatria como foi o caso de Demétrio (At 19.23-27). Esse mesmo Demétrio afirmou que “…não só em Éfeso, mas até quase toda Ásia, este Paulo tem convencido uma grande multidão…”. O nome desse Apóstolo causava espanto e ódio devido o seu êxito na pregação do evangelho. O próprio Paulo afirmou que tanto mais trabalhou como também mais sofreu do que os seus contemporâneos (1Co 15.10; 2Co 11.23-28), ele mesmo afirma que em nada foi inferior aos mais excelentes apóstolos (2Co 11.5). Sua marca ficou registrada na história da igreja não somente pelo legado registrado em Atos bem como pelas treze epístolas que levam o seu nome.
O último capítulo de Atos termina com Paulo aguardando seu julgamento, e esse mesmo livro foi enviado para Teófilo sem um final sobre o destino da vida do apóstolo. Segundo interpretes, esse é o melhor final para o livro, pois o que Paulo começou ainda não terminou, a igreja ainda precisa continuar sua história que seria de pregar o evangelho até os confins da terra. Amém.
Autor, Carlos F. Guimarães