O Livro do Apocalipse e seu significado
Introdução
Sobre o livro do Apocalipse, cabe-nos fazer um trabalho diferente para então termos um entendimento sobre o livro e seu assunto. Assim temos três partes, em que a primeira vamos tratar sobre o livro em si, ou seja, o que é esse livro como um todo. Na segunda, veremos sobre o Apocalipse e a igreja. Na terceira parte, vamos vê-lo pelo lado de dentro, ou seja, o que esse livro apresenta em seu conteúdo enigmático e uma formas de interpretação.
1 – O que é o Livro do Apocalipse
Sobre o título que há na grande maioria das Bíblias, utiliza-se a identificação de Apocalipse do Apóstolo João, no entanto, na Bíblia de Estudo de Jerusalém utiliza-se apenas o título de Apocalipse, nada mais do que isso. Segundo R. N. Camplin, o título mais antigo é o que aparece nos manuscritos de Aleph, “Apocalipse de João”. Em outros manuscritos que foram sendo produzidos ao longo dos anos segundo os responsáveis pela tradução, utilizavam outros títulos, contabilizando-se mais de sessenta títulos. Mesmo tendo essa variedade de títulos ao conteúdo escrito, todos ou grande maioria fizeram ou fazem uso do termo “Αποκάλνφις” (apokalypsis) onde o sentido é descoberta, com seu substantivo apokalyptõ que significa revelar. O nome do livro assim então apresentado antecipa ao leitor que o livro trata sobre o que antes estava oculto e agora foi revelado.
Na introdução do próprio livro do Apocalipse, Apóstolo João nos informa em suas primeiras palavras que todo o conteúdo escrito se trata de uma “revelação” (Ap 1.1), seguindo essa linha de informação, antes de ter essa “revelação” algo estava oculto até aquele momento no ano de 95 d.C. E para se ter conhecimento do que estava oculto será necessário que o leitor leia o livro para identificar o que antes era desconhecido e que passou a ser revelado e assim chamado de o Apocalipse.
2 – Qual é o propósito da Escrita do Apocalipse
Sendo esse livro uma “revelação”, cabe-nos buscar saber o objetivo e assunto que permeia todo o livro. Em seu primeiro capítulo nos é dado uma informação de suma importância, em que o conteúdo do mesmo se destina a um “tempo” (Ap 1.3), e que esse mesmo tempo está “…próximo” (Ap 1.3). No mesmo capítulo temos outra informação, em que esse mesmo tempo será acompanhado de “…coisas que brevemente devem acontecer” (Ap 1.3; 22.6). Em resumo o Apocalipse seria então um livro que contém uma “revelação” que trata sobre um determinado “tempo” marcado por “coisas” que aconteceram e que este mesmo “tempo” está “próximo”.
A palavra “Tempo” no livro estudado, o autor usa o termo grego “καιρός” (kairos). Esse termo significa um tempo definido ou fixado. Seguindo esse assunto sobre o fator “tempo” onde nos é informado, cabe-nos fazer lembrança tanto do profeta Daniel como de Cristo, em que deixaram bem claro em suas profecias que dentro da existência da história da humanidade haveria um “tempo” marcado por angústias como nunca houve e nem foram registradas na história. Cristo quando foi indagado pelos seus discípulos, uma das perguntas era quando seria o “…fim do mundo” (Mt 24.3). Cristo não datou tal acontecimento, mas lhes deu sinais para identificar a proximidade (Mc 13.33, 35). Ainda nesse mesmo assunto, o termo grego para “Fim” no texto lido de Mateus utiliza o grego “synteleia” onde o sentido é finalização, completa, i.e, consumação. Ao que tudo indica, Cristo escolhe o livro do Apocalipse para explicar, ou melhor, dizendo, revelar o mistério do fim. De todos os livros de natureza profética, o Apocalipse é o único dedicado a falar acerca não somente da consumação, mas a detalhar os flagelos e perseguições que sobrevirá sobre a humanidade. Enquanto os profetas anteriores mencionam um tempo de angústia na história, o Apocalipse explica com mais detalhes sobre como será tal sofrimento e gozo dos salvos. O que estava obscurecido agora passa ser mais claro através da revelação escrita.
É preciso entender que essa informação acima comentada é uma introdução registrada pelo próprio Apóstolo João após ter tido a revelação do livro aqui comentado. Em um sentido mais claro, o autor quando foi registrar sua experiência, deixou bem claro que o livro em questão trata-se de acontecimentos que terão um “determinado tempo para acontecer” e que esse mesmo tempo está “próximo” (Ap 1.1-3).
3 – O Tempo Está Próximo, que Tempo seria Esse?
Como já foi apresentado na primeira parte deste trabalho, usando a introdução apresentada pelo próprio Apóstolo João, o livro do Apocalipse é uma revelação de um tempo (Ap 1.1, 3) que será marcado por intensas angustias ocasionadas por uma serie de fatores (selos, trombetas e cálices). No livro temos uma palavra que passou a ser tema, A Grande Tribulação (Ap 7.14).
O livro do Apocalipse é o livro que melhor revela, detalha e explica esse período tão sofrido.
E dentro desse tempo angustiante, os acontecimentos são narrados seguindo uma linha de acontecimentos em seqüência. Nesse tópico buscaremos de forma mais clara possível mostrar esse detalhe.
Já no primeiro capítulo nos é informado que acontecimentos seguirão uma sequência “Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer” (Ap 1.19) junto a esse texto, temos João usando repetidas vezes o termo “…depois destas coisas…” (Ap 4.1; 7.9; 18.1; 19.1). O escritor mostra as coisas profetizadas seguirão uma ordem de acontecimentos. Ao voltarmos nossa atenção que do capitulo seis até o capítulo dezenove, os acontecimentos ali seguem no desatar dos setes selos, no toque das sete trombetas e no derramar das sete taças.
Com esses resumos pode-se ver claramente, que os acontecimentos são para o mesmo tempo, porém, seguirão sua seqüência dentro do plano Divino. De maneira nenhuma podem ser vistos como espirituais, mas sim literais. Uma observação muito precisa dentro dessas três categorias (selos, trombetas e taças) temos três perseguições: a) os primeiros mártires no desatar dos sete selos (Ap 6.9; 7.9-17); b) a besta prevalecendo sobre os santos (Ap 13.7-10); c) e a guerra contra a cidade santa (Ap 16.16). Outra observação visível é que as duas testemunhas são vista logo após o toque da sexta trombeta. Após a morte das mesmas é anunciado às sete taças.
Sobre a tão importante questão de tempo no Apocalipse e esse mesmo tempo durar sete anos, essa idéia está em harmonia com o livro de Daniel (Dn 12.1). É importante lembrar que, por duas vezes Jesus citou o escrito de Daniel dentro do assunto sobre a angustia dos últimos dias “…quem lê, que entenda” (Mt 24.15; 13.14). Essa grande aflição vai atingir principalmente Israel. Daniel em seu livro fala sobre quatro reinos e as setenta semanas (Dn 7.3; 9.24-27). Enquanto Apocalipse fala apenas de uma besta e de um período que entendemos de sete anos que é igual a quarenta e dois meses e mil duzentos e sessenta dias (Ap 11.7; 13.1).
Diante desse exposto, fica evidente, que os textos, tanto Daniel, Cristo e o Apocalipse se complementam e que para uma melhor compreensão do livro é importante respeitar esse fator tempo dentro do quadro profético. Aqui fica claro que em Daniel 12.1 e Mt 24.21 estão dentro do “tempo” profetizado em Apocalipse 1.3 e que durarão sete anos, anos que serão marcados por selos, trombetas e cálices. Mesmo assim temos uma grande dificuldade no assunto, pois são sete anos sendo apresentados em menos de vinte capítulos.
Quando falamos que Daniel, Cristo e Apocalipse se referem ao mesmo tempo, não falamos isso por que usam a mesma palavra em português, mas os três falam de um mesmo contexto, ou seja, todo o globo passando por um período doloroso.
4 – Autor
Por quatro vezes o autor se identifica como João (Ap 1.1, 9; 21.2; 22.8). Pelo o que é dito em Ap. 1.4, as primeiras igrejas a terem essa revelação em mãos foram às sete igrejas da Ásia menor. O autor além de se identificar pelo nome, ainda informa o local, Ilha de Patmos, o motivo era que o mesmo estava preso devido ao seu ministério apostólico, e que no primeiro dia da semana, ou seja, no dia do Senhor foi arrebatado em espírito para ver e ouvir sobre “as coisas que em breve devem acontecer” (Ap 1.9, 10; 4.1-2). Um testemunho patristico antigo de Justino Mártir (135 d.C) e Irineu (180 d.C) citam, ambos, passagens do livro, palavra por palavra, e atribuem ao apóstolo João que era um dos doze. Alguns estudiosos têm dificuldade em aceitar esse livro de autoria de João devida o vocabulário ser diferentes do evangelho e das epístolas. Mas vale lembrar que a diferença se dá pelo fato em que os evangelhos e as três epístolas foram escritos sob inspiração do Espírito Santo, em que cada autor escreveria seguindo seu estilo de construção de palavras. Ao contrario disso, o que se percebe muito claramente, o Apocalipse não foi um livro escrito sob inspiração, mas resultado de uma revelação em que João viu e ouviu (Ap 1.11, 19; 21.2; 22.8). Assim, João apenas relatou fielmente o que viu e tentou descrevê-los da melhor maneira possível.
Autor,
Carlos F. Guimarães