Apocalipse e as interpretações
Introdução
Ao longo dos anos têm surgido líderes e suas interpretações, e interpretações que têm gerado mais outras interpretações. Com isso veio a surgir o que chamamos de escolas de interpretação.
1 – Escolas de Interpretação
Podemos chamar de sistemas ou escolas de interpretação, onde cada sistema tem uma visão de como interpretar o livro do Apocalipse. Quando se fala em escolas não nos referimos a uma entidade educativa onde estaria o nome de uma dessas visões estampadas em uma placa. Mas o termo representa um grupo de igrejas e intérpretes que seguem alguma linha de pensamento. De fato, neste trabalho apresentamos quatro principais, pois conforme o número de igrejas cresce, a forma de ver, e de interpretar seguem esse crescimento. Ao analisarmos cada método, podemos perceber que há pontos de ganho e de perdas quanto ao uso da interpretação. Dentre tantos, veremos os sistemas de interpretação da visão protestante.
2 – A Interpretação Preterista
O termo “Preterista” significa coisas passadas, essa visão ou escola, interpreta que todas as ocorrências aludidas no livro tiveram seu lugar no império Romano do primeiro século. Os eruditos liberais normalmente tomam esse ponto de vista em geral porquanto o livro não pode ser uma profecia genuína, mas tão somente um escrito simbólico e uma avaliação mística dos acontecimentos daquela porção do mundo para onde o livro foi enviado.
C. Sproul define preterismo como: Um ponto de vista escatológico que coloca muitos ou todos os eventos escatológicos no passado, especialmente durante a destruição de Jerusalém em 70 d.C. (R. C. Sproul, The Last Days according to Jesus, p 228). É muito importante distinguir entre o preterismo parcial (ou moderado) e o preterismo completo (ou radical). O preterismo parcial diz que algumas profecias foram cumpridas na geração dos dias de Jesus e na igreja primitiva, enquanto o preterismo completo diz que todas as profecias foram então cumpridas.
Pontos positivos da visão Preterista: dá ao livro um grande valor histórico, em que o mesmo teve grande valor e consolo para igreja daquela época dando a ela a esperança prometida por Cristo que mediante a perseguição triunfariam.
Pontos negativos: o livro perde seu valor profético, pois o mesmo se finda fazendo uma promessa não somente a uma igreja que militou no primeiro século, mas a todos os que receberam a Cristo (Ap 22.14). É inconcebível aceitar a idéia de que apenas uma igreja dentro da história do primeiro século entrando na eternidade.
3 – A Interpretação Futurista
O termo indica que a visão proposta é que o livro trata de coisas futuras. Dentro dessa linha Reginaldo Cruz nos informa que há duas posições: a visão futurista extremada e a moderada (Reginaldo Cruz, Sepego, Introdução ao Livro do Apocalipse, pg 31). A visão Extremada vê o livro como todo profético, inclusive as sete igrejas do capitulo dois, narrar e explicar sobre os pontos defendidos aqui nos levariam a produzir um material próprio somente para esses pontos. A visão Futurista Moderada vê o Apocalipse como um livro genuinamente profético, mas respeita o período histórico tanto da igreja do primeiro século como as sete igrejas localizadas na Ásia menor. No entanto, essas igrejas trazem em seu conteúdo histórico um valor espiritual de extrema importância para as igrejas de todas as gerações. Sobre esse ponto vista Futurista, Hernandes Dias Lopes faz uma critica a essa posição Futurista dizendo:
“…Também essa escola não faz justiça ao livro que foi uma mensagem atual, pertinente e poderosa para todos os crentes em todas as épocas. Esse livro não tinha nenhum conforto para os crentes primitivos nem para nós. Transfere o Reino de Deus para o futuro milenar, enquanto sabemos que o Reino já veio e estamos no Reino ”.
Essa afirmação não está correta quanto à visão futurista moderada, que vê o Reino de Deus apresentado no Apocalipse como algo visível e glorioso (Ap 2.26-27; 5.10; 20.4) que será algo futuro, enquanto que nos evangelhos e nas epistolas o reino de Deus é apresentado como algo primeiramente espiritual na igreja e no mundo, uma ação miraculosa do Espírito Santo na vida do pecador e da igreja (Lc 21.17; Jo 3.1-8; Rm 14.17). E assim como o livro do Apocalipse foi um conforto para os primitivos cristãos daquela época assim ele o é hoje e futuramente.
O ponto positivo dessa visão, é que o mesmo deixa a igreja informada quando aos eventos escatológicos e gerando esperança. O ponto negativo seria da parte daqueles que fazem uso dessa visão apenas como um livro que trata de juízos e sofrimentos sem ter nenhum valor histórico e espiritual.
4 – A Interpretação Histórica
A abordagem historicista é uma das mais populares. Essa linha de interpretação vê o livro do Apocalipse como uma histórica simbólica da igreja que, em geral, delineia suas lutas, as quais resultam em seu triunfo final. Essa visão tenta encaixar os acontecimentos históricos dentro da profecia do Apocalipse. Buscando encontrar na historia personagens e fatos anteriormente profetizados no Apocalipse de forma simbólica. Segundo reverendo Hernandes Dias Lopes essa linha de pensamento historicista foi adotada por Agostinho, os Reformadores, as confissões reformadas e a maioria dos grandes teólogos seguiram essa linha (Hernandes Dias Lopes, Estudos do Livro do Apocalipse, Ed. Hagnos). O grande ponto negativo, é que não há um consenso entre os que adotam essa visão. Sobre isso, Jhon F. Walvoord diz que: Cada intérprete tentava colocar o clímax do livro em sua própria geração, o que gera uma grande variedade de interpretações. Por isso, é impossível encontrar dois estudiosos dessa época que ofereçam a mesma interpretação do Apocalipse (Jhon F. Walvoord, Todas as Profecias da Bíblia, pg 453. Ed. Vida). Sob essa ótica, parece que o livro aqui estudado fica sujeito a história para ser entendido. Isso tiraria a autoridade da profecia.
5 – A Interpretação Simbólica
Segundo essa visão tudo é símbolo, tudo é místico, objetivo é tratar o caráter e espiritualizar. Não vê o livro do Apocalipse com uma predição de coisas futuras. Santo Agostinho de Hipona nos séculos IV e V, via a escatologia com um olhar alegórico apenas, nada literal. O exemplo disso é que na concepção de Agostinho, a ressurreição de Ap. 20.4 é a mesma ressurreição espiritual do batismo nas águas . Ponto negativo dessa linha de pensamento é que com essa interpretação, o livro perde valor histórico, profético e doutrinário.
6 – Um breve parecer sobre as Escolas de Interpretação
Devido não ter um consenso, mas muitas interpretações e interpretações essas que geraram e ainda geram muitas divisões no corpo da igreja, uma se destaca entre as demais que é a visão Futurista, pois essa leva não somente a igreja ter o livro de Apocalipse como um livro prático, mas também de vê-lo com um olhar de esperança.
7 – Seis desafios quanto à interpretação do Apocalipse
Como já foi apresentado em comentários anteriores, o livro do Apocalipse é uma revelação de coisas que acontecerão em um determinado tempo que está fixado na história. Assim, essas “coisas” são apresentadas através de figuras e personagens. Através de uma extensa leitura e pesquisa sobre o livro aqui estudado, podemos chegar ao entendimento que o livro profético fala em forma de símbolos sobre: 1) identificar os símbolos; 2) personagens; 3) lugares; 4) tempo; 5) classes de pessoas e os 6) fatos que tudo está relacionado.
Autor,
Carlos F. Guimarães